“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” – Paulo Freire

Com o tema “10 anos de Educação Contextualizada: uma história de sonhos, resistências e conquistas”, Ipaporanga celebrou um ciclo que revolucionou a educação no município, ao ponto de ser referência nacional no assunto. O seminário foi realizado em parceria com a Cáritas Diocesana de Crateús, Secretaria Municipal de Educação e We World GVC Brasil, no dia 17/09/2024, (terça-feira), no Ginásio Municipal Expedito de Sousa. O evento também celebrou os 37 anos de emancipação da cidade.

“Na verdade, a educação contextualizada já é experienciada pelo município há mais de 10 anos. Quando ainda sem muitos recursos, a Resab (Rede de Educação do Semiárido Brasileiro) Ceará começou um projeto piloto na cidade, logo observamos o quanto toda a comunidade escolar se apaixonou pela proposta”, recorda Adriano Leitão, coordenador da Cáritas Diocesana de Crateús.

Segundo Adriano, o principal desafio de implementação no município é sempre convencer e encantar gestoras/es e educadoras/es, e em Ipaporanga esse processo fluiu tão bem quanto os olhos d’água que existem em abundância na cidade. Inclusive, uma grande prova da concretude dessa experiência foi como, a partir das escolas, as comunidades se engajaram na luta em defesa desse patrimônio hídrico e de vida, se opondo à instalação de uma mineradora na cidade.

Pessoas certas, no projeto certo

Segundo a secretária de educação na época da implementação, em 2014, Dilviana Márcia Penha Alves, a escolha de “Neném”, como é carinhosamente conhecida Aurineide Lima, para coordenar o projeto na época, foi fundamental para que tudo começasse a dar certo. “Ela já vivia a Educação Contextualizada antes de conhecer a teoria da proposta. Assim como ela, outras professoras e outros professores também já implementavam um processo pedagógico que fazia sentido à vivência das comunidades. Daí pra frente, foi só aprimorar”, relatou a gestora.

“Essa celebração, com a presença de professores, representantes da comunidade, só fortalece esse modo de ser da nossa educação, que em Ipaporanga, não é desvinculado com programas e projetos que são desenvolvidos de forma estadual, municipal, federal. Pelo contrário, ela fortalece os bons resultados”, comemora Neném. Desde que essa nova realidade é vivida na educação da cidade, várias escolas já receberam reconhecimento e prêmios, como o Escola Nota 10, da Secretaria Estadual de Educação do Ceará.

Desde 2015, a Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido é Lei Municipal, política pública que não apenas garante a continuidade do projeto, como também fora mais uma conquista que literalmente ganhou materialidade a partir das salas de aula, sejam as tradicionais, passando por expedições aos olhos d’água da região, até quintais produtivos como o da agricultora Conceição Veras. “Não só quando meu filho estudava no município, mas também agora, dá muito orgulho ver que o nosso trabalho serve de aprendizagem para a escola”, se orgulha.

Vale ressaltar, que além da Sede, os distritos de Sítio Araras, Água Branca, Cajás dos Jorges, Lagoa do Barro, Mulungu, Torrões e Sacramento realizam um trabalho de excelência, com muito empenho de toda comunidade escolar e da comunidade, resultando em resultados históricos no IDEB.

O evento

A programação foi enriquecida por diversas apresentações culturais, entre elas, o cordel recitado pela professora Gracinha, da Escola Macaro Jorge Soares, que relembrou as temáticas trabalhadas ao longo desses 10 anos de história. Um dos destaques foi o registro das experiências exitosas com áreas verdes nas escolas, como o projeto de Agrofloresta da Escola Santa Rita de Cássia, em Água Branca.

O seminário foi uma verdadeira celebração da cultura local, com apresentações musicais, cordéis, exposição de fotos e desenhos, evidenciando o valor da educação contextualizada em Ipaporanga. A dinâmica do evento trouxe a importância e valorização das potencialidades de cada distrito, para celebrar também os 37 anos de emancipação política do município. Entre os presentes estavam a Secretária de Educação de Ipaporanga, Ana Maria, representante da CREDE 13, da Resab, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Ipaporanga, além de gestores/as escolares, professores/as, alunos/as, técnicos/as da Secretaria de Educação.

Fabrícia Barbosa, que estuda na Escola Municipal José Domingos de Morais, em Lagoa do Barro, além de exibir desenhos das belezas naturais do município, que passou a conhecer e entender que também são parte da “sala de aula”, convidou as e os presentes a conhecerem também tais recantos. “Nós temos aqui um paraíso, que precisamos conhecer e preservar”, convida. Da Serra da Ibiapaba aos quintais produtivos, da luta anti-mineração aos intercâmbios nacionais que são realizados anualmente, Ipaporanga e o povo que nessa cidade mora, a Educação Contextualizada é fonte de inspiração para que tantas maravilhas e talentos fiquem em evidência.