“Posso ser flor do campo companheiro pescador, mas, no barco contigo, nem patrão e nem senhor, resistência e coragem trançam as redes da união, que o peixe já vem vindo das águas do meu sertão…”

No dia 15 de novembro de 2024, data em que nosso país reflete sobre valores democráticos e a participação política, as/os pescadoras/es do município de Novo Oriente – CE se reuniram às margens do açude Flor do campo para realizar III Campeonato de Canoagem organizado pela Coordenação da Colônia Z 58, em parceria com a Gestão Municipal, e instituições parceiras como Cáritas Diocesana de Crateús e Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP-CE/PI).

O evento de caráter celebrativo e de confraternização foi alusivo aos 18 anos da colônia Z 58, que reuniu pescadores/as da Associação das Pescadoras e Pescadores Artesanais de Tamboril, da Artepesca, de Novo Oriente, e uma expressiva participação da população de Novorientense. O encontro foi marcado por uma partilha solidária, peixe assado na beira d’água, música ao vivo e muitas baterias nas mais diversas idades nas categorias feminina e masculina.

Para Antônio Alexandre, 1° Coordenador da Z 58, foi muito significativo a mística de abertura que contou com a participação do senhor Germano, representante do terço dos homens da paróquia de são Francisco, que trouxe elementos importantes, como a leitura do lançar as redes para as águas mais profundas. ” Sobre a festa, eu quero dizer que a festa dos pescadores, o encerramento da pescaria, já virou tradição, e está sendo uma festa bem divulgada. Cada ano vai sendo mais divulgada, vai aparecendo mais gente!”, comemora.

O campeonato é a celebração da partilha, dos dons dos serviços e da vida dos homens e mulheres das águas. O dia 15/11 marca também para os/as pescadores/as de água doce do Sertão o início da paralisação da pesca (período do defeso). Segundo a pescadora sócia da colônia Z 58 Anunciação Alves, o campeonato é um momento muito prazeroso, pois nos reunimos, cada um faz sua parte, nos organizamos para uma festa linda e maravilhosa e por sinal gigantesca para a população. “É chegada a hora da competição, entre pescadores/as locais e pescadores/as de outras cidades vizinhas, onde todos entram naquela animação mostrando o espírito de competição e descontração” conclui.

Roda de Conversa debate impactos da mineração na pesca artesanal e saúde da população.

A programação do dia continuou com uma roda de conversa organizada pela Associação Artepesca, da comunidade de Flor do Campo, com os pescadores e pescadoras sócios e sócias da mesma para uma roda de conversa e partilha de sabores e saberes. O tema central do debate foi a reabertura da mineradora, cujos rejeitos afetam o açude e ameaça a saúde da população. Houve falas muito fortes como a do Senhor Ribamar do Nascimento, sócio da associação Artepesca: “Vamos ter um grande trabalho pela frente no momento e no próximo ano para fazer com que essa mineradora pare de poluir nossas águas, mas, não é motivo de desanimar, é momento de se unir e se reanimar para a luta.”

Neste reanimar da vida, é necessário sempre pautar a fé e a vida como sinais de esperança e a certeza de que a luta não pode parar! É nossa missão seguir e ter a fé e a coragem para continuar a caminhada.

O dia 15/11 foi marcado por estas vivências que valorizam, reconhecem e animam a vida e a resistência dos povos das águas na defesa de seu território sagrado, o santo berço das águas, como afirmam os pescadores e pescadoras, que têm na pesca artesanal seu modo de vida e cultura que é geracional e traz a ancestralidade na sua essência.