
A Cáritas Diocesana de Crateús participou do Grito das/os Excluídas/os nos municípios de Independência, Tamboril (ambos em 06/09) e Crateús (07/09). Com lema “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”, o evento foi experienciado nessas três cidades com animação de sindicatos, movimentos e pastorais sociais. Em Independência houve uma mesa de negociação, em que a população de todas as regiões trouxe as demandas, mas infelizmente as autoridades convidadas, a exceção de quatro secretários do município e o comandante da Polícia, não compareceram. Da Câmara dos Vereadores apenas um representante esteve, do Poder Judiciário ninguém compareceu, mas o Centro Pastoral estava lotado de pessoas. Em Tamboril houve um ato público, em que as lideranças puderam dialogar com a sociedade sobre a temática do Grito, fazer denúncias sobre a atual conjuntura que o país vive, com ameaça e retirada de direitos, reformas para atacar as/os trabalhadoras/es e a corrupção que parece um buraco sem fundo. Em Crateús houve manifestação de rua e resistência de militares.
Na verdade, em Crateús houve um grande exemplo da forma como as autoridades militares e civis enxergam o povo, pois haviam pensado para a cidade um desfile militar, com viaturas equipadas e policiais fardados, dispostos a demonstrar como andam no mesmo passo, no mesmo compasso do comando, seja qual comando for. Aliás, as últimas vezes em que os militares no Brasil fora. O treinamento de guerra dos militares brasileiros é muito eficiente para ser usado contra civis desarmados, inclusive, seja brasileiros ou haitianos. Mas na contramão disso havia centenas de pessoas que não estavam dispostas a ficar à margem, observando quietos como as autoridades queriam. Foram às ruas para desmentir a verdade inventada pela burguesia, de que o povo realmente é livre desde o Grito do Ipiranga. Os gritos reais por justiça social, contra empurrar para o povo a conta da crise que os empresários e os governantes colocados lá por eles criaram, esses sim são de liberdade, mas quase foram abafados pelas autoridades em Crateús.
Quase, aliás, é até um elogio para os militares. Estes queriam que o povo passasse em frente ao palanque das autoridades só depois do desfile militar. Estavam com medo do povo? Talvez sim. Numa clara demonstração de truculência e falta de harmonia com a população, oficiais do Exército e da Polícia Militar tentaram conduzir o movimento para a margem. Queriam que o povo ficasse calado, admirando passivamente passar a força que tantas vezes se volta contra o povo. Mas ao invés disso, o povo que estava à margem foi para o meio da rua, seja por curiosidade, seja por solidariedade. Assim, não houve mais condições dos militares impedirem a marcha das/os excluídos passar. Não queriam revelar diante da multidão a principal faceta deles, que é a oprimir quem ameaça os poderosos, e saíram do caminho bastante frustrados. Então, num gesto que beira a infantilidade, cancelaram o desfile após perceberem que não intmidavam o povo empoderado de seus direitos, tentando passar a ideia de que as crianças, as pessoas idosas, as juventudes, as/os trabalhadoras/es ali na rua representavam ameaça às viaturas e aos fuzis que eles portavam. Talvez estejam certos. Não há nada mais perigoso para as autoridades do que um povo destemido e conhecedor de seus direitos.
Por Eraldo Paulino.