A Cáritas de Crateús está executando o programa em Aiuaba, Ararendá, Arneiroz, Catunda e Quiterianópolis.

A Cáritas Diocesana de Crateús está executando uma nova parceria com a Associação Programa 1 Milhão de Cisterna, a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), para a construção de cisternas de 16 mil litros, a chamada “cisterna de primeira água”. Serão 769 cisternas em cinco municípios: Aiuaba, Ararendá, Arneiroz, Catunda e Quiterianópolis.
O processo de mobilização e cadastramento das famílias beneficiárias iniciou-se ainda em novembro de 2023. A estratégia passa pela articulação de forças sociais de cada município, através da reorganização das Comissões Municipais, que são fundamentais para gerar participação e a democratização do Programa, que é uma política pública e deve ser executado com transparência. Nas comissões, participam organizações da sociedade civil, mas também representantes de órgãos públicos, especialmente as secretarias de agricultura dos municípios.
DESAFIOS POLÍTICOS – O Programa Cisternas foi praticamente extinto nos governos de 2016 a 2022. O novo governo federal precisou recuperar R$ 56 milhões que seriam perdidos por problemas relacionados à gestão anterior, que tinha reservado apenas R$ 2 milhões para a ação. Ao todo, o governo federal vai investir 460 milhões em cisternas para o Semiárido. Só o contrato da Cáritas Diocesana de Crateús receberá mais de R$ 4 milhões. Apesar de o recurso vir da articulação e do compromisso do novo governo com o Programa, “há que se registrar que a força da mobilização e a capacidade de diálogo das entidades que compõem a ASA Brasil foram fundamentais para garantir que o Programa voltasse com tanta força”, avalia Adriano Leitão, coordenador da Cáritas de Crateús.
O Programa Cisternas começou a ser executado em 2003, atuando fortemente no semiárido brasileiro, depois expandiu para outras áreas do Nordeste e atualmente tem experiências em outros biomas, inclusive o amazônico. Em 20 anos, foram construídas mais de 1,14 milhão de cisternas em todo o país, sendo que até 2016 foram entregues mais de um milhão de unidades. A volta do Programa com uma dotação orçamentária mais robusta quebra um ciclo de abandono da política, que teve em 2021 e 2022 os menores investimentos em seus 20 anos de criação.
CURSOS DE GRH – Para ter acesso ao Programa as famílias precisam reunir três critérios básicos: (i) morar em área rural, (ii) ter renda per capita de até meio salário mínimo, e (iii) não ter acesso a água potável. Depois de selecionadas, as famílias precisam passar por uma capacitação para o manejo sustentável da água, o chamado “Curso de Gestão de Recursos Hídricos”, ou GRH. São 16 horas de formação, onde um representante de cada família tem acesso a informações sobre a questão da água no semiárido, doenças ligadas à água, estratégias de tratamento da água e, principalmente, sobre os cuidados com a cisterna e seus acessórios.
Os cursos de GRH acontecem nas próprias comunidades e reúne uma média de 30 participantes em cada curso. Os instrutores e instrutoras são pessoas também ligadas a organizações não governamentais que tem uma longa e comprovada experiencia com o tema da Gestão de Recursos Hídricos e convivência com o Semiárido. A metodologia inclui uma parte teórica, com informações científicas e conteúdos advindos de pesquisas acadêmicas, mas privilegiam os conhecimentos construídos pelas próprias comunidades sobre o cuidado com a água, como condição para a convivência com o nosso bioma.
Um exemplo da importância do diálogo com os saberes populares dentro da formação nos cursos de GRH foi registrado na Comunidade Lagoa dos Bois, em Ararendá. Lá os participantes do Curso de GRH conheceram a experiência de dona Fátima e do senhor José Inácio, que possuem cisterna há quase 20 anos, e compartilharam com os vizinhos, novos beneficiários do Programa, tudo o que aprenderam sobre como aproveitar as vantagens da tecnologia. “Nós somos muito privilegiados de ter nossa cisterna, e mais agora repassando o que já sabe com os outros”, disse o agricultor José Inácio.
INÍCIO DAS CONSTRUÇÕES – Quando do fechamento desta matéria, a Cáritas já tinha conseguido registrar a conclusão de seis cisternas, na comunidade de Lagoa dos Bois. Na comunidade, serão beneficiadas 29 famílias, e em todo o município de Ararendá, serão 140. Uma das primeiras cisternas concluídas ali foi a da família de Odília Rodrigues. A aposentada há muito tempo sonhava em ter acesso a uma cisterna. “Temos água encanada na comunidade, mas é muito salgada; para beber a gente tinha que comprar água ou pedir a algum vizinho que já tinha sua cisterninha”, revela dona Odília.
As construções em Lagoa do Bois continuam. Lá também foi realizado um curso de capacitação para novos pedreiros construtores de cisternas, ampliando a capacidade de o programa avançar nas implementações. O município de Ararendá deve ser o primeiro a concluir as construções, mas o processo segue nos outros municípios. Em Arneiroz, as construções começam já na terceira semana de fevereiro. Aiuaba e Catunda ainda vivem a fase de mobilização e cadastramento de famílias. Em Quiterianópolis, o processo deve iniciar-se no início de março.
“Será um ano todo de intensa mobilização, e muito trabalho para cumprirmos a tarefa de mobilizar, capacitar e beneficiar com água boa e muitos conhecimentos sobre convivência e gestão sustentável da água as 769 famílias”, conclui Raimundo Clarindo, coordenador do programa na Cáritas.