Por Dani Guerra/Comunicadora do Esplar

Longe dos bancos tradicionais, experiências comunitárias mostram que é possível circular recursos de forma solidária.

 

Angélica Ferreira é uma das integrantes do Fênix, um grupo de produz velas no município de Cedro. A jovem observa: “Sem o fundo a gente não teria nem começado, porque tudo começou a partir desse recurso”. Ela se refere ao fundo rotativo solidário, alternativa comunitária que se constrói de forma muito diferente do sistema financeiro tradicional.

Neste processo, as taxas abusivas e o lucro são substituídos pelo compromisso, solidariedade e transparência, amparados por um vínculo coletivo e comunitário. José Maria, da Cáritas Diocesana de Itapipoca, explica que a diferença começa na forma de falar: “Nós trabalhamos uma linguagem na perspectiva de uma economia solidária, diferente da economia capitalista que utiliza a palavra de empréstimo, pagamento, juros, a gente usa o acesso ao fundo rotativo, a devolução, que é na perspectiva de vivência mesmo de uma economia mais solidária”.

Bom para você e bom para o grupo

O funcionamento é aparentemente simples, mas profundamente transformador. Os grupos criam seus próprios fundos, gerenciados coletivamente, onde os recursos circulam entre os participantes para financiar atividades produtivas e necessidades emergenciais.

Uma pessoa ou grupo acessa o recurso, desenvolve sua atividade e depois devolve o valor com um pequeno acréscimo, diretamente para a conta de outra pessoa que também vai acessar a oportunidade. Como explica José Santiago, da Cáritas Fortaleza: “O recurso vai e volta, é rotativo porque fica circulando entre os membros do grupo e é solidário porque ajuda as pessoas”.

No caso do Grupo Fênix, o recurso veio por meio do projeto PEAJ (Projeto de Apoio aos Jovens) e foi fundamental para a compra de materiais para produção de velas. “Começamos a produção através desse recurso para a compra de material e a gente conseguiu produzir as nossas velas”, relata Angélica.

Fortalecimento da organização comunitária

Os fundos rotativos solidários geram impactos que vão muito além do aspecto financeiro. José Maria observa que “os fundos fortalecem a organização comunitária, pois a partir do próprio regimento ele exige que a comunidade tenha uma reunião mensal”.

Essas reuniões se tornam espaços de articulação comunitária mais ampla. “Além dos assuntos próprios do fundo rotativo, ela é a oportunidade para que a comunidade trabalhe outros assuntos: formação política, organização de mutirões, que debata os problemas da comunidade”, detalha o técnico da Cáritas de Itapipoca.